domingo, 25 de abril de 2021

 

MODELO

 

 

Ver-te singela, da arte para a arte,

No aconchego do meu atelier.

Entre luzes, tintas e telas,

Tua nudez, assim tão bela.

Desnudar o teu corpo de Vênus

Na percepção de cada linha,

Entre retas e curvas generosas.

Transportei-a para o quadro

Em mágicas pinceladas.

Embriaguei-me da tua beleza

Musa-senhora, rainha!

Entre horas não percebidas,

Trabalhei artista a tua imagem.

Emoções múltiplas!

Sinto-te presa minha,

Dono da tua ingenuidade

Esbanjando o enigma da mocidade!

Mistura homogênea que és

Da carne-pó em alma pura,

Com olhos de estranha ternura

Em presença ali, tão perto.

Despertado é o desejo de possuí-la!

Entre os limites da arte e da vida

Percebo o silêncio que nos cobre

Ao expor a nudez ameaçadora do teu corpo,

Transformando os meus sentimentos.

Então te toco em miragem,

Misturando loucura e razão

Esmiuçando tuas formas plenas de beleza.

Suplico-te assim o teu perdão,

Arrependido de tal pecado.

Perdoa-me o olhar insano,

E o meu proceder mundano!

Quero ver-te imaculada,

Ajoelhada no altar da Virgem,

Santa mulher, anunciando fé,

Na sublime oração de cada dia!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

DIÁRIO DE BORDO - SERTÃO, GRANDE SERTÃO.


DIÁRIO   DE  BORDO – SERTÃO, GRANDE SERTÃO.



              Assim como as árvores mudam as suas folhas amarelecidas pelo tempo a vida muda de páginas e nós, indubitavelmente envelhecemos. Envelhecer é um ato heroico, ir perdendo os sentidos, a percepção, a beleza das formas, a agilidade e até o respeito social dos mais íntimos é penoso. Na verdade é uma droga, aposentar, sentar em uma cadeira, assistir a bons ou maus filmes, ler jornais, reclamar do salário, do plano de saúde, conversar sempre com aquele refrão idiota “ no meu tempo”...
                 Não quero envelhecer assim, pelo menos enquanto puder. Quero preservar meus sonhos loucos de liberdade porque sempre me senti uma gaivota levando vida de tartaruga. Por isso comecei há anos a pensar no meu “Diário de Bordo”. Não se espantem amigos estou muito bem da cabeça só pensando mais longe. Aproveitar a aposentadoria. Por que não?
               Gosto de letras, textos, geografia, história, literatura em geral, fotografia, filmagens e as aventuras que assisti no cinema na minha adolescência sempre me fizeram muito bem como também as páginas de autores consagrados que já li – Tesouros da Juventude – tão inesquecível!
               Resolvi viajar aqui por perto. Comprei uma “pick up”, uma potência, com um toquezinho a mais de velocidade, com segurança, é claro. No bagageiro amplo coloquei além dos meus sonhos volumosos, meus mapas, meus roteiros, minha bússola, meus livros prediletos, meu violão, a roupa indispensável e uma forte dose de coragem. O note book no banco traseiro, pronto para especiais anotações.
              Ânimo não falta!!! No porta-luvas coloquei minha bíblia, (filtro de proteção para a alma) e o filtro de proteção solar para a minha pele cansada, meus óculos, lenços e documentos. Enfim sós, eu e a minha vida!
             Minha máquina fotográfica registrará os horizontes descortinados a cada manhã e meu Diário de Bordo as emoções a serem exploradas. Estradas, estradas e estradas, pé na tábua, uma boa e suave música para equilibrar as tensões. Lá vou com a minha imaginação imperdível.
            A ignição foi dada! Quero me sentir solta levada pelas asas da liberdade que nunca alcancei na mocidade. Assim, “piquei a mula” e como o vento, saí em silêncio rumo ao desconhecido. Queria mesmo chegar “onde o Judas perdeu as botas” sem deixar pistas do meu paradeiro. Desafiei o meu umbigo enterrado no quintal,

“ao Deus dará” comecei a escrever a primeira página do meu diário.
            Tudo, tudo me atraía: os rios, as montanhas, a costa, a vegetação e a fauna além do sol de verão e o luar de prata. Primeiro conhecer um pouco mais de Minas Gerais: o Jequitinhonha, o das Velhas ou o Doce. Viajar pela Estrada Real no Caminho do Ouro palmilhando o chão dos desbravadores portugueses na saga de ampliar fronteiras. Conhecer a Arte Sacra das imponentes igrejas e as minas perdidas das Gerais, contemplar o Pico Itacolomi, testemunha de tantas aventuras. Ir a Diamantina, Ouro Preto, Mariana, Sabará, a São João Del Rei ou a Tiradentes. Assistir em silêncio a luta dos Inconfidentes rezando do alto de Congonhas, deixando-se perder o olhar num passado rico de histórias.
              No coração de Minas seguir até o Vale do Aço encontrando nova cultura exposta no rosto tranqüilo do mineiro com todas as suas tradições. Das montanhas saborear a brisa, a natureza virgem, rumando depois para o São Francisco, para o Urucuia nos caminhos dos Sertões do Rosa, encontrando Riobaldo e Diadorim. “Ce vai, ocê fique, você nunca volte!” “e, eu, rio abaixo, rio afora, rio adentro – o rio.”
              Debaixo dos buritis fazer parada, pensar, admirar, contemplar a beleza viva da natureza ainda intocada. Caminhando ao lado da jagunçada “capisquei” tudo, ao aprender a respeitar o sertanejo, suas aventuras, suas histórias de características tão próprias. “Apear” entre Quem-Quem e Solidão e adormecer ouvindo Manoelzão contando os “causos” das Gerais que não acabam mais, “toda saudade é uma espécie de velhice”! De tocaia, entre uma tapera e outra, o adversário Joca Ramiro e seu bando espia-nos desconfiados! Quanta riqueza cultural brotando do chão!
             E no Tamanduá-tão, várzeas sem fim, a travessia era braba, no embornal a coragem reservada para enfrentar o inimigo.
             - “Te arma bem, Diadorim”!
              - “Tamo passano no Alto-Carinhanha, Alaripe, acumpanha o Zé-Bebelo, cabra experiente pra vigiação revezada!”
                 Assim, entre a vida e a morte, passageira dessa história, eu ia registrando na memória todos esses fragmentos do cotidiano, porque “o sertão está em toda parte:” “o sertão é do tamanho do mundo.” Não há tiro de carabina que acabe com ele. Aqui é a guerra, é cobra engolindo cobra... Lá, o que será? Nem Tatarana nem Urutu-Branco o sabem!
             E, do outro lado da vida, entre anjos, alcançando o seu lugar de destaque, além da tragédia e da comédia humana, engalanado com o seu fardão, Rosa continua a escrever suas histórias fantásticas fazendo pacto de magia não só com o “Demo,” como também com os seus aprisionados leitores, sabendo que “O pássaro que se separa do outro, vai voando adeus o tempo todo.”
              Vestimos a roupa colorida da esperança na procura de um encontro verdadeiro além da vida terrena que nos aprisiona... Seguimos contando nossos “causos”.
               Jagunços têm almas, carências e muita sede de paz mesmo de carabina armada para o inimigo há sempre um pensamento nobre de fazer justiça!
              Nesse rico manancial de contos e experiências deixei o sertão de Minas e segui viagem com a algibeira cheia de sonhos. De timão, chapéu de couro e alpercatas eu fui para o império de Lampião para novamente começar a conviver com novas e surpreendentes histórias, páginas vivas do nosso Brasil, tão desconhecido para tantos.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Menino d'Africa


Menino d’Africa.
Amélia Luz

Menino, cadê a bola? O campinho de futebol,
a pipa empinado sonhos, o céu azul, a passarada,
a alegria da molecada solta nas estradas?
Menino, cadê o rio? O banho com a meninada,
o mergulho, a fieira de peixes, a algazarra das tardes quentes?
Menino, cadê a flauta de bambu entalhado,
Onde entoavas as primeiras notas musicais?
E a perna-de-pau que o fazia crescer brincando de adulto?
O  cavalinho de sabugo, os boizinhos de chuchu,
as gaiolas, as arapucas, o canário grande sempre a cantar?
E a escola menino? A alegria da escola?
As letras, as primeiras escritas, as gravuras,
o alfabeto e a leitura, a vida descortinando mundos?
Tu a soletrar o futuro da tua terra!
Ah... Menino d’Africa, não precisas nem dizer,
das correntes, das tristezas, da fome,
das febres e do abandono cruel,
dos destinos trágicos dos seres,
que a tua raça suporta nos ombros, sem vergar.
Menino-irmão, eu estou do lado de cá do oceano,
clamando pela justiça para que me possas ouvir
no teu silêncio que tanto me incomoda!
Não deixes que a morte te surpreenda
e te leve em sua rede prisioneira!
Alguma coisa falta aos meninos da tua terra...
O sonho, a esperança, o sorriso, a crença maior
de poder viver em paz e fartura,
mesmo que seja ao fundo do teu casebre de barro
 na tua África cabisbaixa e triste,
 tão explorada pela ganância do homem branco!
A pipa que tu empinas levará aos céus
O teu clamor, o teu desespero, a tua súplica.
Do trono o Altíssimo por ti estará a velar, coragem!

quinta-feira, 26 de abril de 2018

ENTREVISTA

AMÉLIA LUZ – Pirapetinga, MG.
480 – 2 de MARÇO de 2013.

Amélia Luz – Pirapetinga/MG – Escreve contos, crônicas e poesias com várias premiações. É formada em Pedagogia – Administração Escolar e Magistério – Orientação Educacional – Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa, Pós graduada em Planejamento Educacional e Psicopedagogia na Escola.

É Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências/Sto. Ant. de Pádua/RJ, Membro Correspondente da Academia Rio – Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro, Membro da Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro de Itapemirim/ES, Membro Correspondente da Academia de Letras Brasil – Mariana e InBrasCi/MG, Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia – Casa Raul de Leoni – Petrópolis/RJ, Membro Correspondente da Academia Friburguense de Letras – Nova Friburgo/RJ, Membro da Academia Ferroviária de Letras – Rio de Janeiro, Membre du Cercle Universel des Ambassadeurs dela Paix– Geneve/Suisse, Membre de L’Academie du Mérite et Dévouement Français – Paris/França e outras entidades literárias. Participa de muitas antologias com premiações em vários concursos literários no Brasil, Portugal, Espanha, Itália e França. Tem um livro solo “Pousos e decolagens” e outros em construção.
SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever?
AMÉLIA LUZ – Hoje, aposentada dedico-me a cuidar da família, sobretudo minha mãe, 95 anos, vítima de Alzheimer há dez anos. É um bebê que precisa de todos os meus cuidados. Sou a única cuidadora: missão de Deus.
Depois, a leitura, a pesquisa, o comprometimento diário com a Literatura. Gosto de viajar, assistir a bons filmes e visitar ambientes culturais.
SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário?
AMÉLIA LUZ – Desde criança tinha atração pelas letras. Depois a Escola Primária veio despertar ainda mais esse interesse. Era míope e pouco ligada a brincadeiras com a turma. Tinha um vizinho, Sr. Aurélio Tomasco, Coletor Estadual de Minas Gerais que tinha um bom acervo literário.
Era tudo que eu precisava. Ali encontrava um mundo ao alcance dos meus olhos. Da leitura posso dizer eu me fiz pessoa!
SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados?
AMÉLIA LUZ - Tenho um livro de poesias publicado ” Pousos e Decolagens”. Prefiro publicar em antologias que eu creio estar perto de mais de uma centena de publicações. Assim, eu trago e divulgo muitos escritores e eles também levam os meus trabalhos para lugares distantes e me divulgam.
Sempre sou surpreendida por uma observação de alguém que leu o meu trabalho.
Faço amigos, participo de lançamentos e me farto de alegrias nesse saudável ambiente onde aprendo muito. Tenho publicações em vários estados do Brasil, Portugal, Espanha, Itália, França e este anos terei em Angola, Bélgica e no Chile.
SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias?
AMÉLIA LUZ – Uma imagem, um som, um pensamento, uma lembrança, uma pa-la-vra!!! A palavra é mágica e desencadeia emoções que me levam a produzir o texto. Um caderninho de anotações, uma perdida folhinha de papel, um guardanapo ou quem sabe até mesmo o notebook. Assim apanho os versos na palma das mãos.
O silêncio da noite me comove e me deixa em “estado de graça poética”.
Puxo o fio de Ariadne… Quem sou??? Nem sei!!! Perdi-me dentro de mim para encontrar a poesia. É indescritível viver isso com tamanha intensidade. Tudo vem de dentro para fora em jactância.
SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira?
AMÉLIA LUZ - Como citá-los se são tantos??? Deixo então o meu Mestre Maior o João Guimarães Rosa e também o meu poeta conterrâneo, mineiro que enxerga por cima das montanhas, Carlos Drummond de Andrade.
SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
AMÉLIA LUZ - O verdadeiro poeta não precisa de incentivo. A poesia por si mesmo irá incentivá-lo! Depois que tomar verdadeiramente o caminho dos versos já não haverá retorno. Embriagado de metáforas seguirá cambaleante em busca do reino encantado onde vivem os poetas. A leitura é a fonte de água viva que precisará sempre.
AMAZÔNIA
Amélia Luz
O tropel do homem assustou a floresta!
A ambição cruel campeou pela mata
fazendo dela o túmulo frio da terra-mãe!
O poeta gritou em trovão por Tupã
que na sua ira de deus,
incendiou com um relâmpago
os olhos cegos que dormiam…
Quero ver salva e protegida
minha Amazônia querida,
patrimônio universal,
útero da natureza,
com toda a sua riqueza!
Relíquia ameaçada
pelas serras sanguinárias
que se embriagam de seiva pura,
ao gemido de árvores milenares…
Vejo neste santuário sagrado
a agonia ambiental de um planeta doente
vítima da violência insana
do desmatamento inconsequente.
Soluço um pranto rouco
clamando pela preservação!
Ao homem louco do meu tempo
deixo um manifesto.
Que lute com peito aberto, como protesto,
antes que seja tarde e tudo se perca!
*****
E por Falar em Maria
Amélia Luz
Maria Rosa
Maria prosa
Maria fogosa
Maria manhosa
Maria Flor.
Maria do fogo
Maria do jogo
Maria do gozo
Do corpo dengoso,
Tocha viva de amor…
Maria mania
Maria da vida
Maria bandida
Maria da lama
Maria da cama
Maria assanhada
Maria mascarada
Do pandeiro e tamborim,
Sem saber do seu fim…
No Bloco dos Sujos
Sambando, gingando,
Alegria! Alegria!
Tudo é fantasia
Tudo é carnaval!
Maria do choro
Do gole, da fome,
Maria sem nome
Cansada, apagada,
Andando sem rumo
Ardendo em ressaca.
Maria das Cinzas,
De tantas tristezas…
A folia acabou
E você não se tocou
Que o seu nome Maria,
É nome divino
É nome de graça
De santa pureza
De tanta riqueza
De virgem e altar!
*****
FILOSOFANDO
Amélia Luz – Pirapetinga/MG
O vendaval passou pela cabeça do filósofo…
Suas idéias saíram livres, giratórias,
quais folhas de papel ao sabor do vento!
Achadas assim ao acaso foram lidas
conservadas, discutidas, ensinadas,
violentadas, desenvolvidas, repudiadas!
Surpreso, como um servo, voltou ao seu trabalho,
de profundas reflexões esperando novos ventos
que assanhassem novos pensamentos
capazes de arrombar as portas do mundo
através do silêncio misterioso das bibliotecas…
Histórias viajaram para todos os lados
textos invadiram a nossa lucidez
mostrando as misérias da tragédia humana…
O monólogo interior, o questionamento,
ou a questão da vida por si mesma
à procura de novos ângulos que nos permitissem
a explicação da nossa solidão existencial!
Inquietos Aristóteles e Platão dialogavam,
deitados num mesmo divã numa sala de Viena,
tentando desvendar os mistérios da mente humana!
*****
MULHER
Amélia Luz – Pirapetinga/MG
Desato o nó do avental, nada mal,
sou mulher com ideias em vendaval…
Deixo o fogão, a frigideira, a prisão,
saio na contramão fazendo a minha liberdade!
Num grito,num gesto, num manifesto
deixo de lado a casa, o pó, a servidão
sou agora um novo modelo em ascensão.
Utilizo cosméticos sofisticados,
em bom tom sou balzaquiana avançada,
ou ingênua, tímida, provinciana,
mulher doidivana conquistando mundos.
Sou cidadã, cortesã, discreta, concreta,
tenho Brazão de Portugal, sou prima do rei,
tenho até impressão digital.
Como o sexo oposto sou, superior e forte!
Piloto avião com as forças do meu coração,
sou atuante, executiva, participante.
Tomo cerveja, minh’alma sobeja,
divido o pão de mão em mão!
Batalho na linha de frente, posso até ser presidente.
Voto, tenho carta de motorista,
tenho visto em passaporte decidindo a minha sorte.
Assim, voo para o sul, voo também para o norte,
manobro na “gentil pátria amada” em missão partilhada
seguindo a força do meu tempo!
Mulher, afinal, ser ou não ser, querer e poder,
questão, resposta, solução proposta?
Encorajar, viver, criar asas, ser forte como o nascer…
Ser delicada amante, amada, submissão sem algemas,
ser sobretudo, mulher!
*****
Procura
Pseudônimo: Capitu
Procuro o espelho
a imagem-miragem,
o vestido vermelho,
o perfume de malva
e o carmim na pele alva…
Procuro a anágua de renda,
o velho livro de lenda,
o homem de branco,
o rosto, o jogo
e o olhar de fogo!
Procuro a pintura
a enfeitar envelhecidas paredes…
Procuro a canastra de sedas
a preciosa cesta de costuras
o crivo, o matiz, o bordado,
o tempo guardado em retalhos de vida…
E o vestido vermelho,
dependurado, mudo, agora desbotado,
roto, puído, rasgado,
surrado pelos maus tratos da lida,
continua contando histórias perdidas…
Na minha solidão,
procuro o trilho, o caminho,
e a volta ao encantado ninho…
Vejo tuas mãos envelhecidas
ansiosas buscando as minhas,
lembro então teus suaves carinhos…
E a cadeira de balanço, vazia,
continua noite adentro,
embalando os nossos sonhos…




terça-feira, 12 de setembro de 2017

Poema: TRANSCENDÊNCIA - Tema: SETEMBRO AMARELO - MÊS DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.





TRANSCENDÊNCIA


Amélia Luz

Da morte absurda
Restou a sombra transitória
O desfazer dos dias sombrios
Contagem regressiva
Nas horas terríveis da solidão,
Mistério da erosão interior
Que tanto o atormentava...
Era como um pássaro indefeso
Esmagado nas suas próprias mãos.
Odiado, rejeitado ou amado,
Rompeu com regras impostas,
Escolheu o pomo mais amargo
Escondido em folhagens venenosas.
Vomitou a rotina, sua sina,
Círculo vicioso da depressão
Que o sucumbia em silêncio...
Era como a rês marcada
Esperando a hora para o sacrifício!
Gritou, pediu que lhe ouvissem,
O gemido do seu sofrimento
Mas os ouvidos surdos não foram capazes,
De percebê-lo assim, tão humano!
Descrente, mergulhado nos delírios insanos,
Que o perturbavam amargamente,
Vestiu inconsciente a sua mortalha
Entre os cacos espalhados da sua vida!
Andarilho, não esperou que um vento forte
Viesse atirá-lo ao chão, fruto maturo,
Entre os vermes famintos da terra-pó.
A noite interminável, a coragem, o estampido...
Nem o rascunho da sua triste história
Pode deixar como memória
Pois as palavras mordem como víboras,
Neste purgatório, que vivemos,

De punições e chibatas!